O mundo é pouco na TV




Nunca fui viajar pra fora. Dizem que depois da li tem mais um eito pra lá. Tem o Paraguai pra comprar muamba, a Argentina, a terra do fogo e muito gelo. E pra lá então tem mais um mundão, o nordeste seco e com muita mulher pelada e gente pobre que troca rapadura por votos. Mais além tem a Amazônia, um matagal sem fim com índios e grileiros, um rio que enche e faz onda, e mais na frente têm umas ilhas de índio e preto e o México, que é seco. E os americanos, ah,  os americanos! Tudo acontece lá. Moda, música, cinema e tudo lá é melhor que aqui, os carros, as estradas, os salários, a maconha, as lojas e a polícia.
Se atravessar o mar tem a Europa, tem de tudo lá, tem múmia, tem peste, tem guerra, tem ricos, parlamento e euro. Lá não tem pobre, lá não tem doentes, e tudo o que precisam levam daqui, enchendo nossos cofres com pouco dinheiro.
Daí tem a África, um monte de terra seca com um monte de negro cheio de barro, muitos bichos e muito mato. É o que vejo na TV. Um negrão estava preso e virou presidente, mas ninguém diz porque. No Egito tem pirâmide e primavera, Jesus nasceu em Jerusalém, Maomé não gosta de ninguém, Palestino mora em barracas e muçulmano é ruim.
Na China tem chinês e o google não mostra o resultado das pesquisas. Na Índia tem indiano, homens secos com panos na cabeça que tocam flautas nas ruas com serpentes que dançam. Não sei se em Dubai tem asfalto na rua, se em Bombaim tem creche ou se o governo tem aprovação popular.
Na Rússia acaba o mundo, depois não tem mais nada. Na Turquia não tem rock, no Oriente médio só tem bombas, o Vietnã os americanos destruíram, sumiu do mapa. Na Korea tem bomba e um ditador e as pessoas comem cães, no Japão o povo só trabalha, pra inventar coisas incríveis. A Áustrália fica lá no canto e tem ondas gigantes e fogueiras enormes.
O mundo é quase redondo, e mesmo de dia dá pra ver quase nada na luz brilhante da televisão.








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