O papagaio pirata

          Existe uma espécie de mamífero que se parece muito com um papagaio. Em especial na parte em que ele aprende a falar alguns textos, e os repete indefinidamente. É um papagaio falso, e muito pouco parecido fisicamente com a verdadeira ave das florestas tropicais do planeta. Ele somente é parecido em dois aspectos, o já citado de repetir textos indefinidamente e o outro, como o de qualquer animal irracional, andar sempre pelos mesmos caminhos, procurando sempre novos ouvintes para suas velhas histórias. Ele pula de um banco a outro, sempre os mesmos bancos, a repetir sempre as mesmas histórias.
Os ouvintes mudam, pois, depois de um tempo todos percebem que o que ele tem para dizer é sempre a mesma coisa. De praxe, a pequena milonga se dedica a criticar tudo e todos, o mesmo tudo, e todos em geral. Ninguém sabe nada, ninguém faz nada. Mas ele, o papagaio, falso, sabe tudo, e somente ele sabe como fazer. Não faz nada, mas vive a dizer que já fez muito, como compete a um papagaio pirata. Suas críticas em geral são direcionadas àqueles que estão em lugares e posições onde ele mesmo gostaria de estar. Nunca maldiz sua má sorte, mas lamenta o azar dos demais por não ser ele a estar no comando, de qualquer coisa que seja. Na verdade esse papagaio quer dominar tudo e todos (ponto).
Uma característica, intrínseca do falso papagaio é saber tudo. Trata a todos ao seu redor como ignorantes, e imbecis. Está sempre explicando o significado das palavras aos ouvintes, e o significado das cousas em geral. Pois para ele, todos são ignorantes, e ele tem de estar todo o tempo explicando tudo sobre o que fala.
Junto a isso ele vê seus incautos ouvintes como peças de seu jogo, como pedras do seu dominó. Se você não combina com as peças que ele tem, você é descartável, e depois de ganhar o jogo, todas as peças se tornam descartáveis. Pois ele não vai levar com ele um grupo de ignorantes imbecis que não sabem nada, que não sabem fazer nada, para os quais ele sempre teve que explicar tudo. “Se aquela gente sabe alguma coisa da vida é graças a ele, foi só porque ele, com toda sua paciência, vivia explicando o significado e funcionamento de tudo”.
Por fim, ele está quase sempre “chegando lá”, mas, um azar qualquer sempre o impede de realizar seus planos, e é disso que fala, pulando de banco em banco (sempre os mesmos bancos) tentando justificar aos momentâneos ouvintes, que senão fosse isso ou aquilo, ele faria muito melhor do que todos os que já fizeram, e do que todos os que no momento estão fazendo.
Quer derrubar esse papagaio de seu ombro, pergunte o que ele anda fazendo no momento pela coletividade, além de falar (mal) de todo mundo.
Outra maneira de se livrar dele é não andar por onde ele anda, até porque ele só anda por ali mesmo.
Se você já ouviu um papagaio desses, sabe bem do que estou falando. Há pelo menos uma meia dúzia por ai. Um falso papagaio, um mamífero inconformado, sem identidade, sem bandeira, sem discurso. Mas, com uma língua muito afiada. Pronto para lhe explicar tudo, sobre nada.







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