Análise sobre a paixão
Crônica
[ ... (começou antes)
]
O homem
estava apaixonado, mas ela o fizera sofrer muito, brincara com ele, não o
levara a sério, se divertia com sua paixão. Ele não sabia o que fazer porque
continuava apaixonado, mas não queria mais. O amigo o ouvia atentamente,
enquanto tomavam café:
- Mesmo
querendo terminar com ela, eu quero continuar com ela. Mesmo não querendo mais
vê-la, eu quero vê-la novamente, embora ela não desperte mais em mim confiança,
por vezes eu prefiro esquecer tudo para ficar com ela. Fico feliz por não vê-la
e sinto saudades dela! Como se explica isso? Tenho certeza do que sei, e tenho
medo de estar errado. Na verdade gostaria de estar errado, para ficar com ela!
O amigo
terapeuta olhava a noite da varanda, balanceou levemente a cabeça:
- Isso é a
paixão, nunca se toma uma decisão, este impasse pode levar um ser humano a
loucura.
O homem
olhava para frente, mas não via a noite. Nem coisa alguma:
- Porque a paixão deixa a gente
assim?
- A
paixão pode ser comparada a um tipo de droga que provoca um tipo de
entorpecimento, seguido de ressaca e depressão, por causa do exagero ou uso
contínuo – esperou um pouco pela reação do apaixonado presente, e continuou – a
paixão tem um pico alto, atinge o ápice, depois começa a cair em uma linha
depressiva relativamente profunda, ou seja, quanto mais alta a paixão, maior a
depressão que se segue, com todo o mal estar que este estado negativo da paixão oferece. Podemos dizer que
a paixão produz e libera algum tipo de humor ou substância no corpo e no
cérebro.
O homem apaixonado estava zonzo com tanta informação bioquímica.
Como pode um sentimento por uma pessoa provocar tudo isso? Mas era isto que ele
sentia. Não conseguia parar de pensar nela e passava os dias e as noites
pensando em ligar para ela.
-
E isto passa?
-
Teoricamente, sim. Mas você tem que ter muita força de
vontade, porque em algum momento você vai estar muito fraco psicologicamente, e
vai recomeçar todo o ciclo novamente. Que pode ser com a mesma pessoa, ou outra
anterior, ou ainda uma nova pessoa a enredar uma nova conquista para alimentar
a paixão.
A Paixão
sempre foi considerada um perigo para os homens rudes e para os homens de
letras. A paixão desvia qualquer um de seus objetivos, e foca todo o ser em um
objetivo: a paixão.
(continua)
Antenor Emerich, 2004
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