Talento em função do dengo

(Pensando em Alvares de Azevedo)

Leio escritores e poetas frustrados, escrevendo sobre amores que não conseguiram encarcerar. Reclamando, invejosos, de riquezas que não lograram ter. Atacando uma sociedade que não se sensibilizou às suas frustrações.

Chorões; talentosos com o raciocínio, visionários, tocados pela arte, consideravam, e consideram, a si, dignos de honra. Uma honra a que a sociedade não outorga. Entregues aos seus vícios e crenças, ansiavam, e anseiam, ser admirados, ricos e adorados.

Cientes do parco raciocínio, do pouco conhecimento do mundo que os cerca, da mirrada cultura em que vive a humanidade, muitos escritores tornaram-se medíocres, escrevendo apenas para impressionar. Lamentam amores idealizados que não corresponderam às suas expectativas. Sscritores e poetas, mas tão mesquinhos quanto a sociedade que criticavam, e criticam ainda. Nota-se egoísmo e individualismo em seus escritos, uma sutil tendência a sentirem-se superiores aos demais mortais não iniciados na arte de refletir profunda e amplamente. Poderiam ser úteis, mas reclamam e choramingam, mal dizendo a própria sorte, para, quem sabe, angariar alguma simpatia, um pouco de atenção.

Entedia-me essa montanha de poemas falando de amores incertos, mulheres infiéis, alguém que foi embora, alguém que não amou eternamente como prometera. No assombroso acervo literário da história humana, se os poemas se transformassem nas lágrimas que descrevem, teríamos sucumbido afogados.

Daí. podemos observar, que alguns neurônios ligados à sensibilidade, aos sentimentos mais profundos e com a incrível capacidade de descrever emoções, não imuniza o artista da tendência ao despotismo, do orgulho, da vaidade exaltada, por vezes ainda mais exacerbada que no senso comum.

Poetas queixosos são crianças que cresceram, mas continuam chamando a mãe no quarto, só porque ela está na sala conversando com alguém.

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