Política e Responsabilidade


(Antenor Emerich)

Problema na escola, barranco que cai e as aulas não são suspensas e os pais continuam a mandar seus filhos para a escola.

Os pais querem que arrumem o barranco para que não desmorone, os políticos dizem à Diretora da escola que não suspenda as aulas.


O problema em uma escola é o vulgar. As mais seguras tem muros de penitenciária. Não sei se para pessoas estranhas terem seu acesso limitado, ou se para impedir o aluno de fugir. Sinceramente. Muros altos, é um problema.

O problema mais fácil de observar é o que põe em risco a integridade física do aluno. No caso, um barranco que ameaça desmoronar sobre a parede da escola, o que faria cair a parede sobre os alunos.

Invariavelmente, situações semelhantes geram uma grande discussão e proporcional inação. Falam muito e não fazem nada. O que é absurdo.

Vamos traçar um percurso legal, para ver como os fatos podem transcorrer.

O zelador da escola avisa a diretora que o barranco está para desmoronar. A diretora confere e concorda. Liga pro secretário de educação e avisa. O secretário de educação ordena alguém que vá conferir o barranco. No outro dia o funcionário vai falar com a diretora, a diretora está de folga, é o dia de folga dela. Então tudo fica para o outro dia. No outro dia o funcionário tem que ir a uma reunião na central regional da educação. No outro dia a secretária liga pro secretário de educação e pergunta se já foi tomada uma precaução, os pais dos alunos estão ficando preocupados e o boato sobre o barranco está se espahando. O Secretário liga para o funcionário que estava encarregado de trazer informações. Este avisa que está indo lá, agora. E, vai.

Confere e retorna confirmando o problema. O Secretário liga para o gabinete do prefeito, a secretária informa que o prefeito esta na capital e só volta depois de amanhã.

A terra já está amontoando sobre a cerca. O perigo é evidente. E as recentes catástrofes por desmoronamento no Brasil, deixam todos preocupados. Os pais estão impacientes, a diretora doz que o problema já vai ser resolvido.

Uma semana depois o secretário consegue falar com o prefeito, que chama o engenheiro da secretaria de obras e pergunta o que pode ser feito. O engenheiro pede três dias para investigar o caso e encontrar uma solução, no outro dia o prefeito vai à Brasília, encontro de prefeitos para discutirem solução para os problemas de seus respectivos municípios. Cinco dias. E a terra acumulando no muro da escola.

O prefeito volta na sexta e só vai falar com o engenheiro na segunda. A solução é difícil, complicada, e exige que se suspenda as aulas. O Prefeito faz careta e dispensa o engenheiro, enquanto pensa: “Por que será que tudo é tão difícil”.

Suspender as aulas está fora de questão, talvez dê para esperar até as férias.

Quase geral, o problema continua lá até que a tragédia anunciada faça a sua cena.

Eu posso entender a burocracia. Posso entender o Seu Prefeito, despreparado e aleijado das filosofias sociais, posso entender que a solução é complicada.

Mas, não consigo entender que os pais enviem seus filhos para estudar em uma escola ao lado de um barranco que está para desmoronar sobre as salas de aula.

Tenho, inclusive, a sensação que se os pais tomassem tal atitude, chegaria a ser fácil para o prefeito resolver rapidamente o problema.

O que ocorre é que ninguém tem coragem para tomar uma decisão responsável.

Comentários

  1. Brilhante exemplo de uma digníssima e justa revolta, que no caso não o sente o que o detêm, sobre si mesmo, um Único poder, o de ser ele mesmo, o que é por si mesmo o ser que se desenvolve e procria, e pelo qual é gerado, e faz a guerra e a paz... Pena a inconsciência!!!

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