Crônica da copa

A tarde passava sem pressa, na tela, a seleção cantava o hino.

Repousada sobre meu peito, ela ressonava suavemente, sua mão tranqüila em meu abdômen.

Na tela, Galvão me deixava inquieto, sem entender a razão pela qual a seleção não poderia pegar uma grande seleção pela frente, que medo da Espanha, que medo da Argentina... Um domingo legal.

Na rua tudo estava em silencio. Cortado ocasionalmente, por algum “foguetão” ou a moda da moda: a vuvuzela. Sopram fraco e não resistem mais que segundos.

Costa do marfim não queria perder de muito. Dunga não queria usar toda a artilharia de uma vez. Não que as equipes esportivas concordem, querem todo o arsenal de peso para quebrar gravetos. Com todo o respeito pela Pátria Costa do Marfim, mas de futebol, entende o Brasil.

Dunga está certo, manter o controle é suficiente, o técnico argentino do Chile, percebeu o truque de Dunga. Cautela. Enquanto cuidam do Kaká, Luiz Fabiano faz gols, se cuidarem do Luiz Fabiano, o Elano faz gols. Se cuidarem dos dois, ah! Tem Kaká, e Robinho. Imbatível! Não da pra segurar todo mundo, ao mesmo tempo.

A seleção tem que estar preparada, para enfrentar o que vier, que história é essa de medo de grandes seleções. As seleções sim têm medo da Grande Seleção Brasileira. É com maiúsculas mesmo.

Mas, e se tudo desse errado? Japão classificado, Gana classificada. E se a final da copa do mundo fosse entre Japão e Gana?

Que susto corporativista. Começo a rir sozinho, pensando na narração sem graça dos locutores esportivos que torcem para uma final com Brasil e Espanha.

É sério, assisti estupefato Japão e Camarões. Só no futebol se vê isso. Coréia do Norte e Costa do Marfim, culturas tão díspares, disputando um jogo de futebol. 32 câmeras que decidem o que mostrar e o que não mostrar ao mundo, podendo até esconder uma verdade.

O mundo não mudou, mas a tecnologia tornou a satisfação de nossos desejos muito mais fácil. E, também nos deixa muito mais cientes da realidade. Esta mesma tecnologia vulgarizou a técnica do futebol, e todas as nações podem contratar Parreira, Filipão, Zico. Japão está dando show de bola, salvaguardando as devidas proporções.

O que o dinheiro não pode comprar é a arte. Essa nasce junto com o artista.

Ela acorda e tira o cabelo caramelado do rosto, me beija o queixo. Olha a TV um pouco e pergunta se o “bonitinho” não está jogando. “Não sei o que deu no “bixo”, esperneou até ser expulso”.

Complicado demais pra explicar, goles de vinho seguido de beijos, o jogo estava terminado, a copa estava no papo, e a galega, cheia de amor pra dar. La fora, algum provável garoto quase sopra uma vuvuzela, um vizinho solta um rojão. Na minha pele arrepia, os grunhidos e as unhas.

Salve a seleção! Só o Brasil bate um bolão.

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